Aeroporto de Beja:<br>vale sempre a pena lutar

José Catalino (Membro da Comissão Política)
O começo das obras do aeroporto de Beja é uma vitória do povo alentejano, em especial de todos aqueles que, como os comunistas, estão desde há anos na primeira linha da defesa de um projecto indispensável ao desenvolvimento da região e do País. É mais uma prova de que lutar por causas e projectos justos, grandes ou pequenos, vale sempre a pena.

O ae­ro­porto de Beja é uma an­tiga exi­gência do PCP. A luta vale a pena

Foi preciso esperar quase três meses, depois da operação propagandística do «lançamento da primeira pedra» – com primeiro e segundos ministros, convidados e enorme aparato mediático –, para assistir, em meados de Abril, ao começo das obras do aeroporto de Beja.
Segundo a EDAB, empresa pública responsável pelo desenvolvimento do aeroporto, a infra-estrutura estará operacional no terceiro trimestre de 2008. As obras da fase inicial devem durar um ano e incluem terraplanagens e construção de placas de estacionamento, áreas operacionais e estradas de ligação às pistas da Base Aérea n.º 11, as quais serão utilizadas em comum pelo futuro aeroporto civil.
A segunda fase – a construção do terminal de passageiros e carga e do edifício de serviços e de bombeiros – deverá ir a concurso ainda antes do Verão. O lançamento da terceira empreitada, abrangendo a construção de uma estação de tratamento de águas residuais e de um terminal de abastecimento de combustíveis, será também este ano.
O investimento total, de 33,1 milhões de euros, é financiado pelo Orçamento do Estado (30 por cento) e por fundos da União Europeia.
Trata-se, na verdade, de um investimento público relativamente baixo – se, por exemplo, comparado com o anunciado pelo governo de José Sócrates futuro aeroporto da Ota –, até porque aproveitará as pistas já existentes da base militar situada nos arredores de Beja (especialistas colocam-nas a par das melhores pistas da Europa e do Mundo), o que reduzirá os custos operacionais –, e que, articulado com outros projectos em curso ou planeados, deverá contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento da região de Beja, do Alentejo e do País.
Assumido já pelos responsáveis como um aeroporto complementar e alternativo aos de Lisboa e Faro, trata-se de uma infra-estrutura que, num primeiro momento, apostará em voos charter e de low cost, tendo em vista os diversos resorts turísticos anunciados para o Litoral Alentejano, para a zona envolvente de Alqueva e para outras zonas do interior. No futuro – concluídas as indispensáveis acessibilidades rodoviárias e ferroviárias há muito previstas para a região – o aeroporto de Beja, situado entre o porto e complexo industrial de Sines, por um lado, e o empreendimento de fins múltiplos de Alqueva, por outro, deverá potenciar não só o turismo de qualidade mas também uma agricultura moderna e outras actividades económicas como a indústria aeronáutica (sobretudo na área de manutenção de aeronaves) e as plataformas logísticas de carga aérea.

Vi­tó­rias do povo alen­te­jano
são também vi­tó­rias do PCP


O PCP, naturalmente, saúda o desbloqueamento das obras do aeroporto de Beja e considera o avanço deste projecto, sem mais demoras, com todas as suas valências, uma importante vitória da luta do povo alentejano contra o «fatalismo» do crónico atraso, da quebra demográfica e do envelhecimento populacional, contra a ideia de que o Alentejo não tem futuro, e, ao invés, pelo desenvolvimento de uma região com grandes potencialidades.
São, assim, sem fundamento e disparatadas as insinuações de dirigentes do PS segundo as quais a construção do aeroporto representa uma derrota do PCP. Bem pelo contrário: é claro que todas as vitórias do povo alentejano são também vitórias dos comunistas, sendo lamentável, isso sim, que as justas reivindicações da região só à custa de anos e anos de protestos e lutas sejam satisfeitas pelos sucessivos governos PS e PSD, responsáveis por políticas profundamente antipopulares e, em relação ao interior, discriminatórias e injustas.
De facto, desde há duas décadas, pelo menos, que os comunistas defendem a utilização civil da Base Aérea de Beja. Em meados dos anos Oitenta, foi a Câmara Municipal de Beja (gerida a partir da implantação do Poder Local democrático pelas alianças FEPU, APU e CDU, dinamizadas por comunistas e outros democratas), no quadro da elaboração e implementação do seu Plano Director Municipal, que apresentou pela primeira vez, num «Estudo para o Desenvolvimento Económico do Concelho de Beja», a ideia da utilização comercial do aeroporto.
A partir daí, nas autarquias, nos movimentos unitários, na Assembleia da República (em intervenções e requerimentos dos deputados alentejanos), em todas as frentes, o PCP continuou a bater-se coerentemente, ao lado de outras entidades regionais, como sindicatos e associações de empresários, agricultores e comerciantes, pelo aeroporto de Beja. Obra cujo arranque dois ex primeiros-ministros – que entretanto abandonaram o cargo, um e outro... – proclamaram várias vezes, obra que PS e PSD utilizaram demagogicamente como bandeira de propaganda em períodos eleitorais, mas que adiaram até agora.
Considerando-o, pois, uma infra-estrutura fundamental para o desenvolvimento do Alentejo e do País, os comunistas vão continuar a acompanhar a construção e a operacionalização do aeroporto de Beja. E, que fique bem claro para PS e seu governo: tal como em passado recente o PCP lutou, por exemplo, e muitas das vezes sozinho, pela regionalização ou pelo empreendimento de fins múltiplos de Alqueva, vai no futuro continuar a reivindicar, a exigir, a defender outros projectos importantes. Desde logo, o IP8 completo, entre Sines e Vila Verde de Ficalho, com quatro faixas, itinerário que o Governo quer interromper no nó de S. Brissos (Beja), a escassos 60 quilómetros da fronteira, penalizando deste modo, sabe-se lá porquê, as populações dos concelhos de Serpa, Moura, Mértola e Barrancos, na margem esquerda do Guadiana. IP8 amputado que, aliás, não faz qualquer sentido agora que o aeroporto de Beja finalmente arrancou.


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